Monique Mathieu
Monique Mathieu
Esta situação tem sido um grande desafio na vida do encadernador que se vê entre a cruz e a espada. O dilema é: como produzir uma arte que agrade ao bibliófilo sem ser um mero imitador dos clássicos já consagrados? Quase tudo que se cria hoje, corre-se o risco de cair em tolas repetições, produzindo um Pastiche, uma cópia daquilo que já se produziu com grande maestria pelos artesãos dos anos de ouro da encadernação, como Marius Michel, Paul Bonnet, Creuzevault, Petrus Ruban, só para citar alguns, pois a lista é enorme.
O grande dilema é: como criar um estilo próprio, que atenda aos anseios do artista, sem extrapolar, sem imitar alguém e ao mesmo tempo agradar ao cliente? Parece-nos um tanto injusto que os mestres do passado não tenham deixado quase nada por se criar e fazer. Atingiram o máximo da excelência na encadernação em suas épocas. Então como criar sem “ chover no molhado”? Fica portanto, a pergunta...
Não é nosso objetivo neste blog fazer julgamentos ou críticas. Acreditamos não haver limites para a arte. Olhe os trabalhos abaixo e tire suas próprias conclusões.
Daniel Knoderer
Daniel Knoderer
Um comentário:
Caro Marco
Gostaria de te convidar, e aos leitores deste Blog, a lerem primeiro: “Reliures decorés” na “Librairie Auguste Blaizot”: http://www.franceantiq.fr/slam/blaizot/CataFR.asp?idTable=Blaizot1102&index=*
E vais-me desculpar por intervir, mais uma vez, no teu espaço.
E agora, se me dás licença, vou dizer-te o que penso sobre a encadernação como bibliófilo.
Quando dizes que “é notório o desinteresse da maioria dos bibliófilos para o modismo das ditas encadernações artísticas” tens toda a razão! Mas porquê?
Como, e penso ser um princípio que não tem grande discussão no nosso meio bibliófilo, um livro antigo deve ser preservado o mais próximo da forma como foi impresso, fácil se compreenderá, que primeiramente teremos a sua edição como livro capeado ou brochado (livros do século XVIII e XIX), encadernações em pergaminho nos séc. XVI-XVII, e as chamadas “encadernações coevas” ou “de época” no séc. XVII-XIX.
Quando obtemos um exemplar que mereça uma encadernação nova (a anterior muito danificada ou não encadernado e desconjuntado) tenta-se uma encadernação “ao gosto da época”.
Aqui temos, no entanto, uma das grandes divergências bibliófilas: reencadernar ou preservar o livro, tal como se encontra, e protegê-lo dentro dum estojo? (Lembras-te certamente que comentei com muito agrado os teus estojos)
Neste momento a segunda opção parece ser a mais consensual.
Daqui se compreende que: “O dilema é: como produzir uma arte que agrade ao bibliófilo sem ser um mero imitador dos clássicos já consagrados?” como tu, muito bem, referes seja grande.
Pessoalmente penso poderemos encontrar uma posição que poderá conciliar as duas visões – a do bibliófilo e a do encadernador-artista: para os bibliófilos mais conservadores, e vais-me perdoar por estar incluído neste grupo, estes fazerem “encadernações ao gosto de época” com “a arte do antigamente” como tu muito bem sabes fazer, e digo isto para livros anteriores a 1850, para darmos uma data de referência, pois mesmo para mim, “velho do Restelo” (expressão de Camões para designar os avessos ao progresso), não tem qualquer cabimento não permitir a livre expressão do “artista encadernador” (que é um verdadeiro artista na sua arte!).
Porque não encadernar um Jorge Amado, um Graciliano Ramos, um Garcia Marquez, um Ferreira de Castro ou um Fernando Pessoa (e sobretudo este que se presta tanto a isso) num estilo mais modernista ?
Se calhar, e vendo de relance os preços com que iniciámos esta conversa, talvez se compreenda um pouco melhor esta “aversão”.
Quem imaginaria um Botticelli a pintar à Picasso ou um Picasso a pintar à Botticelli, quero eu dizer que em cada época o artista se deve expressar de acordo com esta, ou quando muito. introduzir algumas inovações(só assim se dão os tais saltos na evolução da mesma).
Desculpa-me este comentário longo, mais fi-lo com grande amizade e consideração pelo teu trabalho
Um abraço amigo deste lado do oceano.
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